As nações africanas são livres de importar cereais e fertilizantes da Rússia, mas podem enfrentar consequências se comercializarem “commodities” sancionadas pelos EUA, como o petróleo russo, disse a embaixadora dos EUA nas Nações Unidas na quinta-feira.

 

“Os países podem comprar produtos agrícolas russos, incluindo fertilizantes e trigo”, disse Linda Thomas-Greenfield. Mas  “se um país decide se envolver com a Rússia, onde há sanções, ele estará quebrando essas sanções”. “Avisamos os países a não quebrarem essas sanções. Se o fizerem serão tomadas contra eles”, disse ela.

 

Thomas-Greenfield falava na capital de Uganda, Kampala, após uma reunião com o presidente Yoweri Museveni, um aliado dos EUA que não criticou a invasão da Ucrânia pela Rússia e expressou simpatia por Moscovo. Suas declarações surgiram poucas horas depois de o Governo moçambicano ter admitido a possibilidade de Maputo comprar combustível da Rússia.

 

O ministro dos Recursos Minerais e Energia de Moçambique, Carlos Zacarias, disse que Moçambique poderá comprar combustível à Rússia, se esta se revelar uma opção viável.

 

Uma proposta nesse sentido foi feita no início da semana passada pelo embaixador russo, Alexander Surikov – mas ele estipulou que qualquer compra teria que ser na moeda russa, rublos. Zacarias disse: “tenho a certeza que vamos estudar a viabilidade desta oferta, que veio em momento peculiar” caracterizado por grande volatilidade nos preços internacionais do petróleo, causada em parte pela invasão russa da Ucrânia.

 

A ideia de obter combustível da Rússia partiu originalmente de um grupo de empresários moçambicanos, da Confederação das Associações Empresariais de Moçambique (CTA), que se reuniu com Surikov.

 

Após essa reunião, o Director Executivo do CTA, Eduardo Sengo, disse que as empresas viam com bons olhos a importação directa de combustível da Rússia – mas isso só seria viável se a ideia fosse aprovada pelo governo e pelo Banco de Moçambique.

 

 Nenhum desses empresários recordou-se das sanções ocidentais ao combustível russo. Aliás, a possibilidade aventada causou alguns calafrios nalgumas “boardooms” de empresas gasolineiras operando em Moçambique. “Importar da Rússia”? Para muitos operadores, pareceu ridículo ou mesmo ingênuo.

 

As principais “traders” de Moçambique no sector dos combustíveis, como a Vitol, a Trafigura ou IPGs, são braços de multinacionais ocidentais, que seguem à risca as sanções contra a Rússia. E as principais gasolineiras do país estão na mesma condição (TotalEnergies, Galp, Puma, etc). Ou seja, a proposta do embaixador da Rússia só se podia enquadrar numa “brincadeira de ocasião” com nossos empresários. (M.M.)

Fonte: Carta de Moçambique

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