NUMA entrevista que concedeu ao escritor Marcelo Panguana, publicada no livro “Os Peregrinos da Palavra”, a romancista Paulina Chiziane reconheceu que o facto de em Mandlakasi, onde nasceu, contar-se histórias da heroicidade de Ngungunhane, a crença de fazer a diferença no mundo por parte dos nativos é grande.

O Imperador de Gaza, portanto, é um personagem presente no imaginário das comunidades, a partir dos relatos que são contados, com orgulho, pelos mais velhos. Os anciãos, as nossas bibliotecas vivas, têm contado o seu papel na resistência à penetração efectiva do regime colonial no seio da sua comunidade.

A repercussão dessas histórias, algumas temperadas com ingredientes mitológicos – pois “quem conta um conto acrescenta um ponto”, como diz a sabedoria popular – pode ser justificada pelas figuras emblemáticas em diversas áreas, para o país, que de lá vieram.

O mesmo ocorre com o futebol, no Brasil, em que pais e filhos, embalados pelo sucesso mundial de várias estrelas brasileiras, também sonham em seguir carreira no desporto rei. Uns para salvarem-se da pobreza, outros por vaidade.

Este padrão também pode ocorrer no sentido negativo. Como já se viu nalgumas reportagens, onde se mostram casos de jovens que acabam embarcando no crime seguindo alguém que o têm como referência.

Nota-se então que as figuras que mais se destacam nas sociedades acabam significando exemplos que concorrem para o estabelecimento de padrões comportamentais dos indivíduos pertencentes a esse grupo social.

Depreende-se, portanto, que ao se olhar para um semelhante, de alguma forma próximo, que faz a diferença no mundo, os indivíduos passam a acreditar na possibilidade deles mesmo trilharem aquele caminho, pois se torna claro que é possível.

Diante desse quadro, as referências que os pensadores, influenciadores, meios de comunicação social e autoridades permitem que atinjam a esfera pública podem ser determinantes para aquilo que vai ser o comportamento geral e, consequentemente, o caminho que se vai seguir.

É neste contexto que louvamos o reconhecimento cada vez maior que se dá aos artistas pelos mais diversos sectores, pois esse gesto vai contribuir para que a sociedade, igualmente, passe a vê-los com mais respeito e dignidade.

Entretanto, chamamos atenção para o tipo de manifestação artística e de protagonista que acabamos destacando. Conforme os argumentos e as evidências já arrolados, caso se celebre o medíocre, será o medíocre que irá figurar no imaginário popular e, consequentemente, irá orientar a sociedade de amanhã.

A questão é, que referências temos estado a construir hoje? 

    Fonte:Jornal Notícias

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