Samuel Filipe
Fiquei agradavelmente surpreendido quando no corredor da Avenida de Moçambique, cidade de Maputo, deparei-me com veículos de transporte público com os seguintes dizeres “Baixa-Memo”.
Guardei esta informação para o dia seguinte, como novidade a partilhar com os demais, incluindo colegas que vivem em Mumemo (Marracuene) cujo local de trabalho é a baixa da capital. Sabia das dificuldades que enfrentam para se fazerem aos vários destinos, por isso alegrei-me com o facto.
Empolgado com a informação em minha posse, chegou a vez de fazer chegar esta notícia. O abrir da minha boca foi como se fosse um balde de água fria, porque para uns tratou-se efectivamente de uma novidade, quando para os directamente afectados foi como se estivesse a “pisar na ferida”.
Um colega teria confirmado a existência da rota, mas que, infelizmente, as viaturas não chegavam ao destino que se propuseram a seguir. Há encurtamento da rota. Estes veículos vão até a Facim ou na entrada que dá acesso à Magawanine, também no distrito de Marracuene.
Para dizer que as autoridades licenciaram a rota, mas a mesma carece de fiscalização para que, efectivamente, se tenha certeza de que estão a ir ao encontro dos anseios da população.
A rota “Baixa-Facim” opera há algum tempo. Sei pouco sobre ela, mas a verdade é que pelo menos chegam a Zimpeto e faço votos para que cumpram o compromisso de levar os passageiros até a Facim.
As rotas de que faço referência são concorridas porque é lá onde ainda é possível encontrar espaços para a construção a preços considerados aceitáveis. Trata-se de bairros densamente povoados, com os jovens a marcarem presença.
Assim, a rota “Baixa-Memo”, que devia servir a população do bairro Mumemo, está simplesmente a causar desgosto. Já imaginaram estimados transportadores o que é embarcar em uma viatura e não poder chegar ao destino mesmo com os dizeres da rota bem estampados no vidro? Já sentiram o desgosto de fazer ligações e os inconvenientes não somente em relação aos custos, mas também no desgaste físico?
As distâncias dos bairros periféricos ao centro da cidade são longas, mas agravadas pelo congestionamento. Trata-se de uma situação que faz com que os passageiros sintam cansaço físico e na primeira oportunidade que têm para sentar, apanham um sono que só despertam no terminal.
Há necessidade de refrescar a mente dos transportadores de modo a consciencializá-los sobre a importância da actividade que desenvolvem. Dependemos dos serviços destes cidadãos para dar sentido às nossas vidas, para nos movimentarmos de um ponto para o outro e garantir a sobrevivência.
É preciso fazer entender que somos seres humanos, temos dignidade e devemos ser tratados como seres pensantes. É preciso fazê-los perceber que aqueles que idealizaram as rotas viram que a população estava a sofrer para chegar a baixa da cidade de Maputo, por exemplo, a partir do Mumemo.
Igualmente, fazendo parte da comunidade, os próprios transportadores sentem na pele o sofrimento que têm para chegar aos vários destinos. Ou seja, sabem que população de determinado bairro clama por transporte. Assim, depois de avaliadas as condições, tanto as autoridades, assim como os transportadores chegam a conclusão de que é possível juntar o útil ao agradável e ajudar a população. Então, por que a seduzem e depois abandonam?
Trata-se de sedução sim, porque os que vivem no bairro Mumemo sabem que existe uma rota a eles destinada mas que não estão a beneficiar.
Quem é utente do transporte público certamente que já ouviu a expressão “não queremos pedras na viatura”. Ou ainda “não queremos betão”, para se referir aos passageiros que embarcam de um terminal ao outro.
Os transportadores alegram-se com o movimento de embarque e desembarque ao longo da rota, o que representa muitos ganhos.
Por isso, que se vigie a rota “Baixa-Memo”. Já basta de sofrimento. Leia mais…
Fonte:Jornal Notícias