Há mais de três mil pessoas que estão em 21 centros de acolhimento ainda abertos na Cidade de Maputo por conta das inundações urbanas. Algumas famílias estão nesses locais já passam dois anos e pedem reassentamento definitivo.

As chuvas de 2023 e 2024 empurraram muitas famílias para os centros de acolhimento, na Cidade de Maputo. Há os que vivem nesses locais faz dois anos.

As vítimas das inundações afirmam que as condições nos centros de acolhimento até são boas, mas nada que se compare a estar em casa.

“Estou no centro de acolhimento há um ano. Durmo na tenda. Vim parar aqui porque a minha casa está inundada. Quanto às condições, não podemos reclamar. Conseguimos comer, tomar banho e dormir. Nada se compara a estar em casa. Mas o que fazer?”, contou Fernando Mandlate, com um tom carregado de resignação.

É nos centros de acolhimento onde se cruzam várias famílias, diferentes histórias e com denominador comum de terem sido empurradas para este local pela fúria da mãe natureza.

“Assim que a minha casa está a desaparecer com as chapas de zinco, o que devo fazer com os filhos com os quais o meu falecido marido me deixou? Desde o dia em que a chuva forte caiu até hoje, a água continua a encher (nos quintais) e não sabemos de onde ela vem? As casas estão a ficar inundadas”, descreveu Alice Machava, também vítima das inundações.

Nos centros de acolhimento, as famílias dizem estar vulneráveis a várias situações e doenças.

“As tendas que nós temos aqui no centro estão estragadas. Se virem nelas manchas pretas, são lonas do INGD que levamos para fazer casas de banho com o objectivo de nos escondermos da chuva. Ainda que consigamos comer, não adianta se o coração não está em paz. Há ameaças de doenças. Ontem (sexta-feira), ficámos preocupados, porque um de nós teve diarreia e vómitos. Não sabemos que doença era aquela. Se fosse cólera, todos estávamos mal”, narrou outra vítima, na condição de anonimato.

A solução para estas famílias é o reassentamento definitivo. “Neste processo de reassentamento, eles devem dar-nos casas. Não basta parcelarem terrenos e colocarem tendas. Eu, por exemplo, tinha uma casa do tipo três. Então, não faz sentido ir receber uma tenda no reassentamento”, referiu Fernando Mandlate.

Até aqui, não há data e muito menos condições claras para a retirada das famílias dos centros de acolhimento.

“Se, realmente, quiserem ajudar-nos, que organizem o sítio de reassentamento. No meu caso, por exemplo, o meu marido faleceu em Agosto do ano passado. Estando aqui, no centro de acolhimento, não há quem me ajude. Dizem que devemos tratar DUAT do novo espaço, e custa cerca de mil Meticais. Não temos esse dinheiro, porque não temos negócio e não temos valores para isso”, acrescentou, em anonimato, uma outra vítima no centro de acolhimento.

A preocupação no reassentamento é, também, com as crianças em idade escolar. “Gostaríamos de saber se nos locais para onde querem nos levar há ou não escola por perto”, mostrou-se preocupada Lucrência Muchanga, aluna no centro de acolhimento.

Ao todo, são 863 famílias, o equivalente a 3141 pessoas que estão em 21 centros de acolhimento abertos na Cidade de Maputo por conta das inundações urbanas causadas pelas chuvas de 2023 e 2024.

O distrito municipal de KaMavota é que tem o maior número de centros de acolhimento, contando com 10, que albergam famílias provenientes de sete bairros, nomeadamente Hulene A e B, Mahotas, Ferroviário, 03 de Fevereiro, Costa do Sol  e Mavalane A.

Já KaMubukwana tem oito centros de acolhimento, que deram abrigo a famílias de seis bairros a saber: Magoanine A, Luís Cabral, Zimpeto, Magoanine C, 25 de Junho A e B e Inhagoia A.

Há, igualmente, centros de acolhimento abertos no KaMaxaquene, Nlhamankulu, KaTembe e KaNyaka.

Sem gravar entrevista, o INGD revelou que estes centros não serão encerrados enquanto não houver reassentamento definitivo das famílias afectadas em zonas seguras, porque o bombeamento das águas nos seus antigos bairros se mostrou ineficaz.

Fonte:O País

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