Programado para 5 de março, o disco ‘Nunca fomos tão lindos’ reprocessa a energia roqueira do lendário artista gaúcho com os recursos eletrônicos do produtor musical carioca. Capa do álbum ‘Nunca fomos tão lindos’, de Frank Jorge e Kassin
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Resenha de álbum
Título: Nunca fomos tão lindos
Artistas: Frank Jorge e Kassin
Edição: Marquise 51
Cotação: * * * 1/2
♪ “Onde é que está meu rock’n’roll?”, questiona Frank Jorge, lenda do universo pop gaúcho, em Furto de energia, música de bom acabamento (afro)pop que abre o ainda inédito álbum Nunca fomos tão lindos.
O questionamento é feito por Frank através de citação de verso escrito por Arnaldo Baptista para a letra de Será que eu vou virar bolor? (1974), faixa que abre o cultuado primeiro álbum solo do eterno Mutante, Loki? (1974).
Em Nunca fomos tão lindos, álbum de músicas inéditas em que Frank Jorge se afina com Alexandre Kassin, o mais requisitado produtor musical carioca dos últimos 20 anos, o rock está diluído no mix de referências sonoras que pautam o disco gravado no estúdio Marquise 51, em Porto Alegre (RS), e programado para chegar ao mercado fonográfico em 5 de março.
A mencionada música Furto de energia, por exemplo, embute referências do afrobeat do nigeriano Fela Kuti (1938 – 1997) entre citação de reggae de Gilberto Gil – Vamos fugir (1984), parceria de Gil com Liminha – enquanto a letra versa sobre o desperdício de tempo diante do excesso de informação e sedução do mundo contemporâneo, sobretudo nas redes sociais.
Recorrente no repertório autoral composto por 12 músicas de Frank Jorge, esse tema já tinha sido antecipado em 6 de novembro com a apresentação da acelerada música O que vou postar aqui, faixa frenética eleita o primeiro single do álbum produzido por Kassin.
Os artistas batem na mesma tecla da energia acumulada – e às vezes perdida – no recado dado em Não faz mal, pretenso samba-jazz bafejado pelo sopro do trombone de Marlon Sette.
Essa abordagem de temas tão atuais valoriza álbum em que Frank Jorge entra com as músicas e com o canto de tons brandos – além dos toques dos violões, guitarras, teclados e baixos ouvidos no disco – enquanto Kassin contribui com as programações e com a fluência pop de produção que embala bem composições como Tô negativado, flerte com o carimbó e o brega do Pará, já apresentado em 22 de janeiro como segundo single do álbum.
Kassin toca excepcionalmente baixo em Carl Gustav Jung, faixa menos aliciante em que se identificam os sons espaciais extraídos do Game Boy usado pelo produtor como instrumento desde o início dos anos 2000.
Kassin e Frank Jorge apresentam 12 músicas inéditas no álbum ‘Nunca fomos tão lindos’
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Música de cunho autobiográfico, Não lembro o nome do meu pai é acerto de contas de Frank Jorge com a (falta de) memória afetiva de quem perdeu contato com o pai com pouco mais de um ano de idade. A composição desliza deliciosamente na pista da disco music dos anos 1970, reiterando a fluência pop do álbum em arranjo que inclui o som sintetizado do minimoog tocado pelo músico convidado Rodrigo Tavares.
Já Material inédito é rock revestido do synth-pop da década de 1980, mas com timbres contemporâneos. Menos imponente no conjunto da safra autoral de Frank Jorge, a canção romântica Foi ontem se inspira em sonoridades da década de 1960 e reforça o diálogo entre passado e presente que norteia a produção das músicas.
O arsenal manuseado por Kassin impede o álbum Nunca fomos tão lindos de soar meramente retrô. Música cuja letra versa sobre mendigos às voltas com cachaça e comida em casas abandonadas, Criaturas estranhas imprime tom social na mistura da eletrônica de Kassin com a energia roqueira de Frank Jorge.
Essa fusão reaparece em A cobrança com menor poder de sedução pela fragilidade de composição, valorizada no disco pelo arranjo que harmoniza batidas quebradas, influências do cancioneiro brega e efeitos de percussão.
Bem mixado e masterizado por YokiSys, o álbum Nunca fomos tão lindos acerta, na faixa Complicado jeito de amar, ao embalar a sintaxe da canção sentimental brasileira com o pop sintetizado da década de 1980. A prosódia do brega nacional também ecoa em Sinceridade, última música inédita do disco, fechado com versão karaokê de Não lembro o nome do meu pai.
Mesmo que uma ou outra música se revele menos inspirada ao longo do disco, a produção musical e os arranjos harmonizam o conjunto de obra que sobressai nas discografias de Frank Jorge e de Kassin.



Globo

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