As Forças Armadas assumiram a segurança no estado brasileiro do Espírito Santo nesta quarta-feira, após 90 mortes, saques e assaltos num clima de caos provocado por um protesto de famílias que bloqueiam os portões dos batalhões da Polícia Militar para pedir reajuste salarial à categoria, que não pode fazer greve.
Camiões militares patrulham as ruas da capital, Vitória, que amanheceu deserta e com a maioria dos estabelecimentos fechados por medo da violência e dos saques. Grande parte das escolas, das universidades e dos centros médicos também permanecem fechados e só algumas linhas de autocarros funcionam.
O Governo do Espírito Santo publicou nesta quarta-feira um decreto no qual transfere o controle da segurança pública às Forças Armadas até o próximo dia 16 e acusa os policiais em greve de “chantagear” a sociedade com o protesto. “É uma chantagem aberta, é a mesma coisa que sequestrar o direito do cidadão capixaba e cobrar resgate”, denunciou o governador do Espírito Santo, Pablo Hartung.
Parentes e representantes dos agentes mantêm bloqueadas as saídas dos quartéis desde sábado porque os policiais militares não podem se manifestar nem fazer greve por estarem sob o regulamento do Exército.
O protesto corresponde a uma exigência de melhoras salariais e das condições de trabalho para os 10 mil agentes, que recebem um salário base de R$ 2.642(cerca de 59 mil meticais) e estão há três anos sem aumento.
“Estamos a protestar não só pelo salário, mas pelas péssimas condições que são oferecidas à Polícia Militar para fazer seu trabalho. Carros desmantelados, sem combustível, equipamentos velhos. A nossa reivindicação é que o governo nos atenda, queremos conversar. Não aceitamos que nos mandem para casa para depois conversar”, denunciou Euzy Esteva, esposa de um policial militar.
A paralisação da PM gerou uma onda de violência desde o fim de semana que o governo local tentou conter com ajuda das Forças Armadas, que começaram a atuar em Vitória na noite de segunda-feira.
No entanto, a presença de 1,2 mil soldados do Exército e da Guarda Nacional não conseguiu acabar com os incidentes violentos que deixaram pelo menos 90 vítimas, entre elas um policial civil que foi enterrado nesta quarta-feira.
O caso do stado do Espírito Santo disparou o alerta em outros estados que atravessam problemas financeiros, especialmente o Estado do Rio de Janeiro, afundado em uma grave crise que se traduziu em ajustes e atrasos no pagamento dos salários aos funcionários públicos, inclusive a polícia.