Poucas cantoras conciliaram no Brasil popularidade e rigor estilístico como Elizeth Cardoso (16 de julho de 1920 – 7 de maio de 1990).
Nascida há 100 anos na cidade do Rio de Janeiro (RJ), onde saiu de cena há três décadas, Elisete Moreira Cardoso nunca foi uma rainha da era do rádio tão popular como as contemporâneas Angela Maria (1929 – 2018) e Dalva de Oliveira (1917 – 1972), cujos repertórios melodramáticos tocaram mais diretamente os corações dos ouvintes.
Contudo, a Divina – epíteto que detestava, diga-se – atravessou os 54 anos de carreira, iniciada em 1936, com categoria vocal que lhe garantiu o reconhecimento como uma das maiores cantoras do Brasil de todos os tempos.
Por isso mesmo, a memória da cantora merece ser louvada em 2020, ano em que o Brasil deveria se mobilizar para festejar o centenário de nascimento da cantora.
Popularizada em 1950 com a gravação da então inédita Canção de amor (Elano de Paula e Chocolate), Elizeth cantou de Ary Barroso (1903 – 1964) a Villa-Lobos (1887 – 1959) com a mesma maestria.
O estilo tradicional de canto, incrementado com alguns vibratos e ênfases nos erres, nunca a credenciou para ser a cantora pioneira da Bossa Nova, proeza por vezes erroneamente atribuída a Elizeth. O erro vem sendo repetido pelo fato de, casualmente, a batida diferente do violão de João Gilberto (1931 – 2019) ter se insinuado pela primeira vez em álbum da cantora, Canção do amor demais (1958), songbook de músicas inéditas de Antonio Carlos Jobim (1927 – 1994) e Vinicius de Moraes (1913 – 1980), histórico tanto pelo violão de João quanto pelo repertório de clássicos instantâneos.
Elizeth era tanto da canção quanto do samba – inclusive o do morro, do qual foi atrás em disco de 1965, seguindo caminho apontado por Nara Leão (1942 – 1989) em álbum de 1964 – e do choro. A propósito, o show da cantora com o grupo Época de Ouro em 1968 resultou antológico por ter sido um dos marcos da revitalização do gênero na era pós-Bossa Nova.
Enfim, Elizeth Cardoso foi grande. Que o Brasil celebre essa grandeza ao longo de 2020.



Globo

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