Antes da ofensiva dos insurgentes ao distrito de Muidumbe, entre os dias 31 de Outubro e 11 de Novembro, Salimo Tadeu vivia na aldeia Lutete, naquele distrito da província de Cabo Delgado, onde se dedicava ao comércio. Entretanto, depois da tragédia que se abateu sobre aquele distrito, Tadeu foi forçado a mudar-se para o distrito de Mueda com a sua família. Porém, sublinha que a sua aldeia não foi alvo de ataque, porém, ninguém mais quis permanecer naquele ponto do país.

 

Em conversa com “Carta”, Salimo Tadeu contou que a preocupação das pessoas da sua aldeia, assim como de outras aldeias de Muidumbe é de chegar ao distrito de Montepuez, no sudeste da província. Lembre-se que Montepuez é tido, por alguns, como o epicentro da insurgência, pelo facto de alguns dos membros do grupo serem antigos garimpeiros, que foram expulsos das minas de Namanhumbir, onde exploravam o rubi, uma das pedras mais preciosas do mundo. Outros cidadãos, diz a fonte, pretendem escalar os distritos de Balama, Namuno e a cidade de Pemba, na província de Cabo Delgado, e as cidades de Nampula (província de Nampula) e Quelimane (na Zambézia).

 

Já Benedita Mariano, natural de N’tchinga, também no distrito de Muidumbe, afirma que, durante o ataque à sua aldeia, os insurgentes assobiavam, atirando, primeiro, para baixo, enquanto chamavam os seus alvos com a palma da mão. Revela que Deus esteve do seu lado e da sua família, pois, conseguiram escapar da “chacina” e puderam caminhar até ao distrito de Montepuez, onde se encontram actualmente, num percurso que durou muitos dias. “No dia 02 de Novembro, um senhor que estava connosco voltou à aldeia para ver se eles ainda estavam lá, uma vez que havia informações de que já não havia disparos e até aqui não voltou”, avançou a fonte.

 

“Não tenho esperança de voltar para minha aldeia, porque grande parte da população encontra-se noutros distritos”, garantiu Benedita Mariano, que revela ter escapado, por três vezes, da fúria dos insurgentes.

 

“Carta” apurou que o distrito de Montepuez tem sido o novo destino dos deslocados, sobretudo, os que usam o distrito de Mueda, como ponto de escala. As pessoas são oriundas dos distritos de Muidumbe, Mueda e Nangade. Alguns recorrem ao escasso transporte interdistrital, o que encarece ainda mais os custos de deslocação (a tarifa subiu de 700 Meticais, de Mueda para Montepuez, para 1.000 Meticais, havendo outros que cobram 1.500). Outros caminham, não por opção, mas por falta de dinheiro e também de transporte.

 

Um residente de Montepuez contou-nos haver pessoas que chegam a dormir no terminal rodoviário de Montepuez por não saberem para onde ir.

 

Administradora de Montepuez confirma drama humanitário

 

A nossa reportagem falou com a Administradora do distrito de Montepuez, Isaura Máquina, que confirmou haver “muita gente” naquele distrito, proveniente dos distritos afectados pelos ataques terroristas. Por exemplo, no Posto Administrativo de Nairoto, Máquina afirmou que a situação dos deslocados era bastante preocupante, porém, garantiu que o seu Executivo estava a trabalhar, de modo a ajudar aquelas famílias.

 

Sublinhar que o Governo, através do Primeiro-Ministro, Agostinho Carlos do Rosário, avançou já existirem mais de 500 mil deslocados, causados pelos ataques terroristas, que se encontram acolhidos nas províncias de Niassa, Nampula, Zambézia, Manica, Sofala, Inhambane e alguns distritos da província de Cabo Delgado. (Omardine Omar & Carta)

Fonte: Carta de Moçambique

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