“Nomeações à final do Glória de Sant’Anna revelam que Moçambique vive um excelente momento literário”

À imagem do que acontece desde 2013, este ano há Prémio Literário Glória de Sant’Anna, concurso instituído pelo Grupo de Acção Cultural de Válega (GAC) e a Família de Glória de Sant’Anna, em Portugal. Na fase final deste ano, na qual concorrem oito autores, Moçambique está representado por Luís Carlos Patraquim, com a obra o deus restante, e Rogério Manjate, com Cicatriz encarnada, livros de poesia editados pela Cavalo do Mar.

Referindo-se ao prémio, Rogério Manjate, homem de muitos talentos, não fosse actor, encenador, professor e poeta, considera que o simples facto de ser finalista, com autores de vários países, é alguma coisa de valorizar. Por isso, “estou contente e ficarei ainda mais contente se o facto de ser finalista significar também ser vencedor. Vi a lista de alguns autores finalistas e observei que têm muita experiência. Aliás, temos na lista Luís Carlos Patraquim, que dispensa qualquer tipo de apresentações ou cerimónia, ou o autor português, António Cabrita, que vive aqui em Maputo”.

Na percepção de Manjate, ter obras de autores moçambicanos na fase final do Prémio Literário Glória de Sant’Anna, desde ano passado (Fogo preso, de Andes Chivangue) significa que há um trabalho que está a ser feito pela Cavalo do Mar na paisagem literária, com uma certa qualidade que a editora está a imprimir na qualidade das obras. “É muito importante que isso exista, para que não se publique apenas por publicar. Com isso, o acto de publicar na Cavalo do Mar deve significar alguma coisa, porque há editoras que tanto publicam uma obra que vale 20 e outra que não vale quase nada. Isto é fruto do esforço do editor, o Mbate, que acreditou nestas obras e as colocou no concurso”.

Para a Cavalo do Mar, afirma o editor Mbate Pedro, em primeiro lugar, estas nomeações significam que Moçambique vive, actualmente, um excelente momento literário e poético, “onde assistimos a uma forte renovação da sua poesia e uma maior afirmação desta dentro do espaço de língua portuguesa. Vemos esse reconhecimento quando, por exemplo, participamos em encontros literários no Brasil e em Portugal. Por isso, fico agradado que o júri do Prémio se tenha apercebido disso. Pena é que dentro do país, nos meios académicos e outros, haja ainda uma distração em relação a esta realidade (com raras excepções, obviamente)”.

Ora, Mbate Pedro revela que, a avaliar pelo reconhecimento dos poetas da Cavalo do Mar, a aposta literária que a editora tem feito, no sentido de ter mais de 50% do seu catálogo de publicações livros de poesia e de boa qualidade, é uma aposta culturalmente acertada, “e dela não faremos concessões, ainda que não tenhamos nenhum apoio para a edição dos livros e tenhamos que correr todos os riscos daí decorrentes, porque, como sabemos, a poesia, apesar de ser a mãe das artes, tem vendido quase nada, as livrarias têm-na relegado a um plano terciário, a classe média e os nossos dirigentes culturais têm por ela um desprezo profundo, daí que a editora tem (em apenas um ano de existência e com mais de uma dezena de títulos publicados) somado uma série de prejuízos e que infelizmente já começam a colocar em risco a viabilidade do nosso projecto editorial”.

O facto de a Cavalo do Mar ter, em , permite, admite Mbate Pedro, uma maior visibilidade. Primeiro para o autor e a sua obra; depois, para a editora. E o editor acrescenta: “Também permite que alguns  críticos literários e meios universitários e literários (fora de Moçambique, principalmente, porque, infelizmente, cá dentro continua a habitual ostracização, com raras excepções, obviamente, em relação a uma geração de escritores e poetas já maduros e consolidados como o Rogério Manjate, Andes Chivangue, Sangare Okapi, Hélder Faife, etc) tenham uma maior atenção ao que de bom actualmente se faz em Moçambique, no que diz respeito à poesia, em particular, e à literatura em geral”. 

Outros livros apurados à fase final são: Anatomia comparada dos animais selvagens, de António Cabrita; A Rose is a Rose is a Rose et Coetera, de João Rasteiro; Fontes do vento, de Geraldo Diaz da Cruz; O livro das mãos, de Gisela Cracia Ramos Rosa; Viagem à demência dos pássaros, de Alberto Pereira; e What’s in a name, de Ana Luísa Amaral.

Ao autor vencedor do Prémio será atribuído o valor de 3 mil euros. O livro em causa deve possuir pelo menos 32 páginas e ter sido publicado em língua portuguesa, editado entre 1 Janeiro de 2017 e 1 de Março de 2018.

Os membros do júri desta edição são: Nazir Can (Brasil), Mia Couto (Moçambique), Xosé Lois García (Galiza), Jacinto Guimarães (Portugal), Andrea Paes (Portugal).

O nome do vencedor será divulgado próximo mês.

 

Fonte:O País

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