Ao G1, ex-goleiro da Chapecoense falou sobre planos e comparou carreiras de jogador e cantor. ‘Não quero fazer inúmeros shows no mês e, sim, poder fazer um show tranquilo.’ Jakson Follman fala sobre carreira musical e planos para 2021
“Eu sempre tive dois grandes sonhos.” É com essa frase que o ex-goleiro Jakson Follmann começa a falar sobre seu ingresso na carreira musical após aposentadoria precoce dos campos.
“O primeiro, consegui concretizar, que foi me tornar um jogador de futebol, atleta profissional. E em todos os clubes que, passei, sempre estive com meu violão.”
Em 2016, quando defendia a Chapecoense, Follmann sobreviveu a um acidente aéreo que vitimou a maior parte da equipe. Ele sofreu várias lesões, amputou uma das pernas e passou 56 dias internado em hospitais. Nesta fase, conta, começou a dar valor as coisas simples da vida.
“O fato de você conseguir colocar um calçado fechado, de você dar os primeiros passos, poder abraçar as pessoas que você mais ama em pé… essas coisas simples que realmente fazem uma diferença muito grande.”
E esse aprendizado Folmann carrega pra sua carreira musical, que inicia agora uma nova fase, depois de passar pelo período do som entre amigos e, também, pela vitória do programa “Popstar”, em 2019.
“Quis o destino que eu pudesse dar os primeiros passos no segundo sonho.”
Jakson Follmann durante participação no “Popstar”
Globo/Rafael Lima
Durante a quarentena, Jakson lançou seu primeiro single, “Dois passarinhos”, que veio acompanhado de um videoclipe com a participação da mulher e do filho. A faixa estará no EP de estreia do artista, gravado durante o isolamento.
O álbum trará, além de canções sertanejas, a música “Tente outra vez”, de Raul Seixas. Foi com ela que Follmann estreou no reality musical e emocionou o público.
“Ela se tornou uma música muito importante pra mim. É uma música que me fortaleço cada vez que eu ouço, cada vez que eu canto, então ela não teria como ficar de fora nesse momento novo da minha vida.”
Durante a quarentena, Follmann também fez sua primeira live. E agora anseia pela chegada de 2021, para quando planejou sua primeira turnê musical.
“Não quero fazer inúmeros shows no mês e, sim, poder fazer um show tranquilo”, diz o ex-jogador. O planejamento inclui apresentações somente em teatro e deve visitar de 9 a 12 cidades.
“Nada pra fazer em casa noturna, nada de loucura. A gente jamais vai fazer loucura, senão também foge de tudo o que eu falo nas minhas próprias palestras.”
Jakson Follmann durante apresentação de sua primeira live
Baxo Correa/Divulgação
G1 – Foi a vitória no “Popstar” que te despertou para a carreira musical?
Jakson Follmann – Na verdade, eu sempre tive dois grandes sonhos. O primeiro, consegui concretizar, que foi me tornar um jogador de futebol, atleta profissional. E em todos os clubes que passei, sempre estive com meu violão. Então nos churrascos, com os atletas, a gente acaba sempre cantando, tocando violão, porque a música sempre me acompanhou. Lógico que veio o primeiro sonho, mas a paixão sempre continuou pela música. Aí quis o destino que eu pudesse realizar, dar os primeiros passos no segundo sonho.
O programa foi um desafio muito gostoso e foi muito legal porque eu pude me reinventar fora do esporte. Pude me reconstruir fora do esporte, isso foi muito importante pra minha vida.
G1 – Você já pensava na carreira musical para o momento que se aposentasse dos campos?
Jakson Follmann – Pensar, pensar, não estava muito ainda em mente, porque, poxa, eu tinha 23 para 24 anos quando me acidentei, quando tive que encerrar minha carreira. Então eu tinha no mínimo mais uns 15 anos de carreira. Tinha muita coisa ainda pra acontecer até me aposentar dos gramados.
Mas quis o destino me dar essa oportunidade depois de tudo o que aconteceu. Claro que é muito recente, está no começo, mas estou muito feliz de estar começando a dar os primeiros passos.
G1 – Quando você venceu o ‘Popstar’, falou sobre ‘as pequenas conquistas a cada domingo’. Atleta costuma ser mais competitivo, mais agressivo, digamos assim, nas conquistas… O acidente ressignificou sua forma de ver cada vitória?
Jakson Follmann – Com certeza. Sempre falo que ainda corre nas minhas veias o sangue de atleta, que é aquela coisa que a gente vai e quer vencer, que estar nas cabeças. Eu sou assim na minha vida, nas minhas oportunidades e tudo. E isso quem me mostrou, quem me fez ser assim, foi o esporte.
Quando entrei no programa, eu te confesso que o desafio era gigantesco. Meu principal concorrente durante todo o programa era eu mesmo, saber me portar perante as câmeras, perante ao público. Era tudo muito novo pra mim. Então era muito legal porque cada conquista do programa vinham as lembranças da semana, ensaiando no meu quarto, dentro da minha casa, mais tranquilo, da minha forma simples, que é o meu jeito.
Por isso que falo muito das coisas simples também pelo fato que elas fizeram uma diferença muito grande pra mim depois do acidente. Tive complicações enormes no meu corpo, tive treze fraturas. Então o fato de você conseguir colocar um calçado fechado, de você dar os primeiros passos, poder abraçar as pessoas que você mais ama em pé… essas coisas simples que realmente fazem uma diferença muito grande.
A maioria das vezes a gente só se dá conta das coisas simples da vida quando está no leito de um hospital. A gente para realmente pra pensar o tem valor nessa nossa vida, que é tão intensa, tão corrida. Pra mim era tão corrido. Hoje sou um cara que procuro focar, relaxar, respirar e, volto a dizer, valorizar muito essas coisas simples.
Jakson Follmann durante sua primeira live
Baxo Correa
G1 – Enquanto você foi falando, só pensei que você deve estar tirando de letra o isolamento dessa quarentena depois de todo esse aprendizado com o acidente…
Jakson Follmann – (risos). Eu fiquei 56 dias nos hospitais, praticamente fiquei só dentro do quarto. E lógico que cada momento, cada dificuldade que hoje o mundo todo está passando em relação ao isolamento, em relação a toda a pandemia, a gente acaba saindo com vários aprendizados.
“Eu te falo que eu aprendi muito nos 56 dias hospitalizado, e aprendi muito na pandemia.”
Tirar de letra é uma expressão um pouco difícil, mas a gente procura trabalhar bem a cabeça, porque a gente já passou por uma situação de ficar isolado, então a gente acaba fortalecendo ainda mais.
G1 – Por que escolheu o sertanejo? No programa, você cantou muitas canções nesse ritmo, mas uma das apresentações que mais emocionou o público, talvez por sua história, foi “Tente outra vez”.
Jakson Follmann – Eu gosto de tudo que é tipo de música, eu gosto de uma boa música. Eu sempre falo que gosto de músicas que tem um significado na letra. A música realmente transforma vidas, ela muda a vida de pessoas.
Eu me identifico mais com o sertanejo, com o sertanejo mais raiz. Até no meu EP são músicas mais raiz, que falam mais de interior, eu sou do interior também.
G1 – Como tem sido o apoio por parte dos artistas?
Jakson Follmann – Eu tenho muitos amigos cantores, sertanejos e outros ritmos, outras modalidades musicais. E graças a Deus, tive um apoio muito grande. Quando eu mostro o projeto, quando falo para as pessoas e a gente apresenta o projeto, está sendo muito bem recebido pelos cantores. E esse apoio é fundamental.
Pra gente que é fã de muitos desses cantores, desses artistas, poder receber também esse carinho, não tem preço.
G1 – A gente vê tanta música viralizar depois que um atleta posta ou faz dancinha em campo. O bom, no seu caso, é que você tem apoio e amigos dos dois lados, né?
Jakson Follmann – É legal, porque tenho bastante amigos na música, e tenho muitos e muitos dentro do futebol. E é legal porque os amigos, os jogadores, mandam mensagem dizendo que a música está muito linda, que está muito minha cara, as pessoas que me conhecem de mais tempo.
É muito legal você receber esse feedback. A gente procurou fazer músicas que pudessem atingir tudo que é tipo de público, ainda mais nesse momento que a gente está vivendo.
G1 – Você iniciou a carreira musical num momento de quarentena, lançou clipe, fez live, EP, tudo nesse momento atípico de reclusão. Mas já está pronto pra ir para os palcos, pra encarar estrada, correria de agenda?
Jakson Follmann – Eu estou pronto, até porque nosso projeto é um pouco diferente. Com o Prosa e Viola, que é o nome de nosso projeto, a gente vai viajar em 2021 de 9 a 12 cidades e a gente vai fazer shows em teatro. Não é show em casa noturna.
Não quero fazer inúmeros shows no mês e, sim, poder fazer um show tranquilo. A gente jamais vai fazer loucura, senão também foge de tudo o que eu falo nas minhas próprias palestras. Aí volto a falar sobre as coisas simples da vida, da correria, a gente não pode querer achar que a gente tem que fazer um monte de coisa, querer abraçar o mundo, e acabar não fazendo as coisas direito. E não é isso que eu quero.
G1 – Você vê semelhanças entre o mercado da bola e o mercado musical?
Jakson Follmann – Cito muito que no mercado da bola você tem muito jogador bom e não tem oportunidade. E na música vejo que é muito parecido. Você tem muitos cantores bons que não tem a oportunidade de mostrar seu trabalho, seu talento.
O futebol e a música estão sempre caminhando juntos. Você mesma citou jogadores que fazem gols e fazem uma dancinha de alguma música, aquela música explode. Então a música é muito conectada com o futebol. E as pessoas acabam comprando a ideia e se apaixonando ainda mais pela música e pelo futebol.
G1 – E o que você leva do futebol para a carreira musical?
Jakson Follmann – Eu acho que é a tranquilidade. Agora eu puxo mais para o lado do goleiro, não só do futebol, mas da posição do goleiro. O goleiro tem que ser muito frio, tranquilo. Eu sou apaixonado pela posição de goleiro. Mas é uma posição muito ingrata, porque você está ali para evitar o que o estádio todo está para ver, que é o gol. Mas não tem uma sensação melhor do que você estar jogando fora de casa e fazer uma defesa, um milagre. E todo o estádio se lamentar pelo fato de você fez aquela defesa.



Globo

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