Foto de Adérito CaldeiraO presidente da clube moçambicano com o melhor palmarés no continente africano disse em exclusivo ao @Verdade que o Ferroviário da Beira devia ter tido mais apoio da Federação Moçambicana de Futebol e da Liga de Clubes porque “estava a representar o País”. Num balanço daquela que foi provavelmente a melhor época de sempre do histórico clube da capital de Sofala, Boaventura Mahave estabelece como o objectivo da equipa masculina de basquetebol, representante de Moçambique “sermos um dos três primeiros classificados e irmos a final na Tunísia”.

O @Verdade esteve na capital da província de Sofala e entrevistou Boaventura Mahave, o presidente do Ferroviário da Beira, sobre a excepcional época do clube que dirige teve em 93 anos de história.

Boaventura Mahave – O Ferroviário da beira é um clube histórico que movimenta mais de 800 atletas, em vários escalões, no futebol, basquetebol, natação, atletismo, ginástica e até badminton. Sabe que a Beira já teve campeões africanos (de badminton). Em termos de infra-estruturas temos aqui uma piscina olímpica de 50 metros, temos o campo de futebol da baixa que recentemente beneficiou de obras de reabilitação, ficou com o melhor balneário de todas equipas que eu vi na fase de grupo e incluindo lá na Argélia. O próprio presidente do USM elogiou. Fizemos as melhorias, sabe que não tivemos aqui o primeiro jogo infelizmente por várias razões que não nos interessa voltar novamente a abrir desse ficheiro que não nos agradou mas fomos obrigados a fazer obras todas com apoios dos Caminhos de Ferro. Os CFM contribuíram com 100% dos custos de reabilitação.

Temos uma campo na Manga, que também temos que melhorar, e tivemos a reabilitação do pavilhão depois de mais de 20 anos, tivemos aqui a final da Liga de basquete e tivemos também a fase final do africano sub-16 em femininos e ficou provado que este pavilhão é um dos melhores do país neste momento. Chegaram dois marcadores electrónicos que vão ser instalados no pavilhão, colocamos também um marcador electrónico no campo da Baixa e estão também a chegar cerca de 450 cadeiras para a bancada sombra.

Infelizmente ainda temos o problema dos acessos ao campo da Baixa e ao pavilhão de basquete por isso pedimos ajuda do município. Portanto o desafio deste clube não é apenas manter os atletas e outro pessoal mas também cuidar destas infra-estruturas.

@Verdade – Que avaliação faz da época do futebol que está a terminar?

Boaventura Mahave – Depois de ganharmos o campeonato em 2016 apuramo-nos para a fase de grupos, depois de termos passado pela equipa de Zanzibar e a da Libéria que não foi fácil. Perdemos o primeiro jogo da fase de grupos, na Tunísia, mas em Maputo foi empate e depois vencemos uma das equipas do Sudão e empatamos com a equipa tunisina, e agora empatamos com a equipa da Argélia. Para Champions League podemos dizer que foi excelente a nossa participação. O nosso objectivo era chegar a fase de grupos, e lá era o que pudesse acontecer, e felizmente chegamos onde chegamos.

“Achamos que a Federação podia ter apoiado mais”

 

@Verdade – Mas essa estreia da Liga dos Campeões não foi fácil, o que aconteceu?

Boaventura Mahave – Não tínhamos nenhuma experiência, os outros clubes estão lá há vários anos, tem uma máquina e uma estrutura, tem também jogadores a altura. Felizmente na Champios League saimo-nos bem apesar de não termos um plantel à altura para conseguir este sucesso. Um dos calcanhares de Aquiles para conseguirmos jogar nas duas frentes (Liga dos campeões e Moçambola) que nós tivemos foram as viagens, primeiro tínhamos de ir para Maputo ou para Johannesburgo, mas para irmos a países como a Tunísia ou Argélia tivemos de passar pelo Qatar ou pelo Dubai porque outras ligações não permitiam chegarmos atempadamente e também porque outras opções saiam mais caras.

@Verdade – Mas o Ferroviário da Beira está a fazer uma época má no Campeonato nacional de futebol?

Boaventura Mahave – Em relação ao Moçambola podemos dizer que não foi uma boa época, nos últimos anos o Ferroviário da Beira sempre ocupa os primeiros lugares, já foi duas vezes vice, já parou no 3º e 4º lugar, influenciado por esta questão de ter de seguir em duas frentes e outro factor decisivo foi a marcação dos jogos pela Liga Moçambicana de futebol. Em algum momento a Liga Moçambicana de futebol deveria ter feito alguma coisa pelo Ferroviário da Beira, por exemplo no Sudão pararam com os jogos internos só para as equipas poderem seguir na competição. Nós colocamos essa questão, temos de chegar aqui numa segunda, depois sair numa terça para ir jogar a Tete, e acabamos por perder jogos com equipas que podemos considerar de segundo plano, portanto esta classificação do Moçambola não espelha aquilo que é o Ferroviário da Beira nem de acordo com a sua grandeza.

@Verdade – Acha que faltou apoio ao Ferroviário da Beira, por parte de quem?

Boaventura Mahave – Achamos que a Federação podia ter apoiado mais, porque quando nós nos unimos conseguimos a aprovação do campo. Voltando à Liga(de clubes) depois de termos solicitado que o jogo(atrasado da jornada 20) fosse alterado um dia, fizemos cartas mas a Liga manda-nos falar com o Costa do Sol. Noutra situação o Costa do Sol não teria ganho aquele jogo, foi apanhar jogadores cansados. Estão satisfeitos, mas a gente sabe porquê houve essa pressão… Mas Deus escreve certo por linhas tortas.

Devíamos ter tido mais apoio porque com o Ferroviário da Beira há possibilidade de aumentarmos mais equipas, há países que entram com três equipas. Nós temos de ser solidários porque o Ferroviário da Beira estava a representar o País, tivemos vários apoio do Governo provincial e central e dos empresários. Nós temos de refletir para o Songo (União Desportiva, o novo campeão nacional) não ter o mesmo problema, devemos unirmo-nos para apoia-los a terem uma boa campanha e chegarem onde chegamos ou talvez ir um pouco mais, como disse na Argélia gelamos o estádio.

Foto de Adérito Caldeira@Verdade – Já está a ser preparada a próxima época futebolística, quais são os objectivos?

Boaventura Mahave – Vamos investir para ganhar o título em 2018 porque sabe bem estar na Champions League, é outro nível, o Ferroviário da Beira passou a ser conhecido a nível africano e mesmo mundial. Em relação a equipa técnica ainda estamos em análise, não é fácil mantê-la até porque estamos com problemas de ordem financeira, mas gostaríamos de continuar, ainda não decidimos.

Apesar de em algum momento haver algum crítica que a equipa só tem empatado, mas também não perdemos, só perdemos com o Costa do Sol nas circunstâncias que foi. Mas é nosso desejo manter a mesma equipa técnica. A massa associativa deve entender que a inexperiência foi um dos factores determinantes para não conseguirmos êxito no Moçambola aliado a sobrecarga de jogo e viagens.

“Temos consciência que temos de trabalhar com os jogadores da casa”

 

@Verdade – No basquetebol a época também foi boa…

Boaventura Mahave – Em relação ao basquete depois de dois anos fomos campeões(em masculinos), apostamos e os resultados vieram. Mas para o basquete alguma coisa tem que ser feito, os clubes gastam muito dinheiro para apenas algumas semanas de competições, talvez tenhamos de voltar à aquele modelo antigo. Já foi uma boa abertura da Mozal e espero que eles continuem para que tenhamos mais competição fora de Maputo.

Também tivemos uma boa prestação com a equipa feminina, ficamos em terceiro lugar, há uma aposta muito forte que estamos aqui a fazer no basquetebol nas outras camadas jovens, juniores e juvenis.

Além destas modalidades, na natação no ano passado fomos campeões de inverno, no atletismo ficamos em segundo no nacional, isto para dizer que o Ferroviário da Beira sempre tem apostado para ter resultados bons, criando condições para os atletas.

@Verdade – Qual é o objetivo da equipa de basquetebol masculino nas competições africanas?

Boaventura Mahave – O nosso objectivo é sermos um dos três primeiro classificados e irmos a final na Tunísia. Vamos ter de reforçar a equipa, o professor Nazir(Salé) já está a trabalhar.

@Verdade – O Presidente da República no entanto deixou um recado para se trabalhar para vencer com os jogadores da Beira!

Boaventura Mahave – A mensagem ficou, temos consciência que temos de trabalhar com os jogadores da casa e estamos a trabalhar para tal mas não vai ser fácil. O basquete aqui é de um nível menos competitivo. Também perdemos muita da nata do basquetebol e por isso temos de recorrer às contratações. Eu acho que será possível daqui a algumas temporadas voltar a fazer equipas com a base da Beira.

Foto de Adérito Caldeira@Verdade – E como estão as finanças do clube?

Boaventura Mahave – Toda a gente fala que o Ferroviário da Beira recebeu muito dinheiro na Champions League, mas dos 550 mil dólares que temos direito deram-nos 275 mil dólares, da primeira tranche, de onde vão ser deduzidos 160 mil dólares de direitos de transmissão televisiva, 40 mil por cada jogo.

Houve mais 100 mil dólares pela qualificação para a fase de Grupo mas é preciso saber que nós também tivemos custos. Uma viagem ao exterior esta em média 7 a 8 milhões de meticais. Nós tivemos ainda que pagar o custo das viagens de Maputo para aqui das equipas da Tunísia e do Sudão, quase 700 mil meticais por cada uma delas. Escrevemos à Federação para saber porque tínhamos nós de pagar e disseram que é a nossa obrigação, questionamos que a Beira tem um aeroporto internacional porque não viajam directo para cá, a Federação disse que era nossa obrigação e arcamos com ela. Tivemos ainda de pagar as deslocações das equipas de arbitragem, a organização do jogo, quase 1,6 milhão de meticais por cada jogo disputado aqui na Beira.

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