A pandemia da Covid-19 continua a propagar-se pelo país, tendo já infectado 32.781 pessoas, das quais 363 anunciadas na última segunda-feira. Paralelamente, a doença vai causando mais vítimas mortais (319, das quais 14 reportadas nesta segunda-feira), tal como vêm aumentando o número de internamentos, havendo, neste momento, 225 hospitalizados.

 

Entretanto, é também um facto que mais de 64% dos doentes já recuperaram da doença, facto que acalenta as esperanças entre os que ainda continuam infectados pelo vírus. Esta segunda-feira, por exemplo, o Ministério da Saúde (MISAU) anunciou a recuperação de 453 pacientes, totalizando um cumulativo de 21.011 recuperados.

 

Num momento em que mensagens de esperança devem imperar que as de “terror” – que pululam pelas redes sociais, desde que a situação da pandemia se agravou no país – “Carta” conversou com alguns cidadãos que recuperaram da doença. Todos estiveram internados no Hospital da Polana Caniço, o centro de excelência para o tratamento da Covid-19, no país.

 

“Os médicos deste hospital [Polana Caniço] foram verdadeiros heróis”, Naldo Chivite

 

 

O jornalista e activista social, Naldo Chivite, de 41 anos de idade, esteve internado naquela unidade sanitária, durante um mês, e revela ter sido um “período doloroso” e de “muita aflição”, tendo em conta o seu estado clínico, que era bastante crítico.

 

“Cheguei na clínica do Hospital Central, num estado bastante crítico. Apresentava um quadro respiratório grave por ter demorado ir ao hospital. Imediatamente, fui transferido para o Hospital da Polana Caniço, onde estive hospitalizado por quase um mês. Foi um momento de muito terror, sofrimento, até cheguei a pensar que não sairia dessa com vida. Os médicos deste hospital foram verdadeiros heróis e tudo fazem para poder salvar as nossas vidas”, disse Chivite.

 

Inevitável, Chivite disse ter assistido alguns companheiros do quarto a perderem a vida naquela unidade sanitária quase todos os dias. “Durante os dias em que fiquei internado, vi muitas pessoas perdendo a vida, entre mulheres, jovens e adultos. Outros perdendo a vida porque a doença ataca os pulmões e leva muito tempo para atingir o nível de recuperação, outros perdem a vida porque, muitas vezes, quando o pessoal da saúde não está por perto, retiram as máscaras do oxigénio porque não conseguem ficar com a mesma durante muito tempo”, sublinhou.

 

Questionado sobre o grau de resposta do sistema da saúde, a fonte disse que o sector da saúde precisa apostar no aumento do pessoal médico qualificado, tendo em conta que cada paciente necessita de um acompanhamento específico e muitos chegam às unidades sanitárias em estado crítico.

“Há também necessidade de se aumentar os equipamentos instalados no Hospital da Polana Caniço, porque tive a impressão de que os mesmos são escassos”, acrescentou.

 

“Ir à Polana Caniço foi a melhor e gloriosa opção” – Lourenço Mimbir

 

 

Outro paciente recuperado da Covid-19 é Lourenço Mimbir, que esteve internado nos Cuidados Intensivos do Hospital da Polana Caniço. Conta que, primeiro foi ao Instituto do Coração (ICOR) por apresentar complicações respiratórias graves e, três horas depois de uma observação médica, foi transferido para o Hospital Central de Maputo (HCM), onde esteve dois dias, antes de ser levado para o Hospital da Polana Caniço.

 

“Ir ao Hospital da Polana Caniço foi a melhor e gloriosa opção, porque foi de lá que recebi o melhor acompanhamento, fui salvo naquele hospital. Acredito que se tivesse continuado no Hospital Central, não teria saído de lá com vida. O atendimento das enfermeiras é péssimo, no primeiro dia acabei o oxigénio e pedi socorro por muitas horas e não tive o apoio imediato, o que agravou a minha situação. Sempre que eu pedia pelo oxigênio, as enfermeiras mandavam apenas esperar”, conta a fonte.

 

Já no Hospital da Polana Caniço, Mimbir diz que esteve internado por cerca de 10 dias, porém, recebendo os melhores cuidados que os da maior unidade sanitária do país, sobretudo, porque “o oxigénio é canalizado e não há muita dependência”.

 

“Sempre que pudermos evitar aquela cama do hospital, vamos fazer porque a mesma não é saborosa. A medicação não é nada boa, o pior é que não tens ninguém que te acompanha, tu não tens comunicação com o exterior”, detalhou, emocionado.

 

Lourenço Mimbir admite que, numa primeira fase, queria ser internado no ICOR, porém, as condições não permitiram, pois, aquela unidade sanitária privada exigia meio milhão de meticais (500.000,00 MT) de caução para a sua hospitalização.

 

“Vivi os piores dias da minha vida”, Amarildo

 

Quem também esteve no Hospital da Polana Caniço é Amarildo, de 39 anos de idade, que esteve internado por duas semanas. “Vivi os piores dias da minha vida”, diz a fonte, garantindo ser testemunha viva dos maus tratos protagonizados pelas enfermeiras afectas ao Hospital Central de Maputo.

 

“Primeiro, estive no Hospital Central de Maputo, onde fui internado por três dias. Durante o período de internamento, conheci o lado mau das enfermeiras daquele posto. Durante a noite, pacientes gritando de todos os cantos e as enfermeiras não se importavam, enquanto isso, outros pacientes acabavam perdendo a vida por falta de cuidados imediatos”, revela Amarildo.

 

Aliás, o nosso entrevistado diz que quando foi transferido para o Hospital da Polana Caniço entrou em pânico, tendo em conta que era dependente do oxigênio, pois, imaginava que este seria removido durante a transferência, o que não aconteceu porque as ambulâncias vêm equipadas com o oxigénio.

 

“Na Polana Caniço era notória a agitação por parte do pessoal médico, porque a cada instante um número elevado de pacientes chegava naquela unidade sanitária. Em algum momento, os médicos prescreviam certa medicação, mas se esqueciam de escrever no processo e os enfermeiros recusavam-se a dar o paciente. Os médicos também atendiam os pacientes e quando interrompessem para ver outros casos, não voltavam ao paciente anterior, cenário que atrasou a minha recuperação. Mas, o mais preocupante, neste ponto, é a falta de comunicação entre o pessoal e os pacientes”, sublinhou a fonte. (Marta Afonso)

Fonte: Carta de Moçambique

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