A crise provocada pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19) está a prejudicar não só os sectores da hotelaria, restauração e transporte aéreo, mas também o sector que se dedica à exploração de recursos minerais, nomeadamente pedras preciosas, petróleo e gás.

 

O sector de petróleo e gás é, em verdade, um dos primeiros a ressentir-se dos efeitos das fortes medidas restritivas impostas pelos Governos para prevenir a propagação da Covid-19. Perante essas medidas, assistiu-se, internacionalmente, à queda do preço do barril para níveis históricos, devido à menor demanda por produtos derivados do petróleo, como os combustíveis essenciais para o transporte de carga e de passageiros ou como fonte para geração de energia, que suporta a actividade produtiva.

 

A nível interno, e no contexto laboral, foram repatriados vários especialistas estrangeiros e nacionais que estão envolvidos na implantação dos projectos de petróleo e gás na província de Cabo Delgado, afectando negativamente a produtividade de toda a cadeia de valor associada ao sector.

 

Em termos de impactos directos, dados divulgados esta quinta-feira (28), pela Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), indicam que mais de 500 Pequenas e Médias Empresas (PME), associadas às indústrias extractivas, especialmente no sector mineiro, estão afectadas pelos impactos da pandemia até à data, pelo que cerca de 85 suspenderam completamente as suas actividades, devido à suspensão temporária dos contratos com os mega-projectos. Consequentemente, 26.350 postos de trabalho podem estar em risco se a situação financeira das empresas se agravar.

 

Dados da CTA revelam ainda que cerca de 160 PME, na área mineira, registaram uma redução significativa na facturação, o que corresponde a uma perda de receita estimada em cerca de USD 12.6 milhões.

 

Membro do Pelouro dos Recursos Minerais, Hidrocarbonetos e Energia na CTA, Chivambo Mamadhosen, disse, em conferência de imprensa, que entre os investimentos mais afectados destaca-se o projecto liderado pela TOTAL, na Área 1 da Bacia do Rovuma, avaliado em 26 mil milhões de USD, que suspendeu temporariamente os trabalhos iniciais relacionados com a dragagem, instalação do acampamento e o reassentamento, continuando apenas os trabalhos relacionados com a engenharia do projecto.

 

“Segundo a empresa, não haverá atrasos na execução do projecto e a entrega da primeira carga de Gás Natural Liquefeito (GNL) para 2024 não será comprometida”, realçou Mamadhosen. O empresário acrescentou que o Projecto Coral Sul FLNG, liderado pela ENI, com um valor de investimento de cerca de 7 mil milhões de USD, poderá atrasar entre dois a três meses, ainda assim se mantém a perspectiva do início da exploração do gás em 2022.

 

Mamadhosen lembrou que a ExxonMobil adiou o anúncio da Decisão Final do Investimento (DFI) do Projecto do Complexo Mamba da Área 4 Onshore, que inicialmente estava previsto para Abril, e projecta um corte de 30% nos seus custos a nível mundial, devido à queda do preço do petróleo e aos impactos da Covid-19.

 

“Com os principais mercados dos produtos desta indústria fechados e o comércio internacional estagnado, em 24 empresas ligadas ao sector mineiro, por exemplo, foi possível aferir que o volume de negócio reduziu cerca de 54% em média, o que representa uma queda global nas receitas em mais de USD 248 milhões. Nesse subsector, 32% das empresas registaram uma redução de 100% no volume de negócio e estão encerradas, enquanto 59% das empresas tinham o seu volume de negócio reduzido entre 50% a 100%”, reportou a fonte.

 

No sector de petróleo e gás em geral, Mamadhosen informou que os custos das empresas aumentaram em 30% a 50%, devido à implementação de planos de prevenção contra a Covid-19 e gestão de pessoal como o aumento do número de frotas para o transporte de pessoal e outras medidas.

 

Em relação à massa laboral, a fonte reportou que o nível de empregabilidade reduziu na ordem de 42% no sector mineiro e 29% no sector de petróleo e gás, quando comparado com o período antes da Covid-19, o que corresponde a cerca de 2.225 trabalhadores num exemplo de 20 empresas.

 

Incentivos

 

Para mitigar os efeitos da pandemia no sector da indústria extractiva, a CTA diz ser urgente a criação de uma unidade de diálogo com o Ministério dos Recursos Minerais e Energia e Instituto Nacional de Petróleos, com o objectivo de avaliar as condições particulares de Moçambique, para enfrentar o problema de economicidade dos projectos. A agremiação propõe ainda que a banca dê um tratamento especial às empresas, nomeadamente, cancelar a cobrança de juros durante o Estado de Emergência.

 

“Melhorar a fiscalização de produtos contrabandeados que provêm da África do Sul e Malawi, como forma de proteger os produtores locais (ovos, frangos, etc.). Rever qualquer forma de monopólio que limita a concorrência e aumenta os custos para Moçambique ser competitivo e prever medidas que amorteçam os impactos negativos no sector de distribuição de gasolina e produtos similares”, concluiu a fonte. (Evaristo Chilingue)

Fonte: Carta de Moçambique

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