Caminhamos a passos largos para o assinalar do primeiro ano desde o anúncio do primeiro caso da Covid-19 em Moçambique. Foi a 22 de Março de 2020 que as autoridades sanitárias comunicaram o registo do primeiro caso de Covid-19 em território nacional. Tratou-se de Eneas Comiche, actual Presidente do Conselho Municipal de Maputo, cuja identidade veio a público graças à atitude arrojada e altruísta da sua esposa, Lúcia Comiche, depois de ter sido por ele infectada. Lúcia Comiche ligou para um canal de televisão privado da praça, a Soico Televisão, para apenas dizer que era a mulher que contraíra a doença do primeiro caso.
A atitude de Lúcia Comiche foi, efusivamente, saudada. Para muitos foi uma atitude digna, de coragem e uma demonstração de carácter. Sorte diferente teve o seu esposo, Eneas Comiche, a quem lhe foram atribuídos vários adjectivos pejorativos, cuja reprodução é perfeitamente dispensável nestas linhas.
Àquela altura, assumir publicamente que testara positivo para Covid-19 assemelhava-se a um dogma. O assunto não era para ser falado, quanto discutido na praça pública. Aliás, foi evocada, nos meandros da saúde, princípios éticos e deontológicos para não se revelar as identidades dos indivíduos que haviam testado positivo para o novo coronavírus.
Em outros quadrantes, personalidades, dos vários sectores de actividade, assumiam publicamente a situação em que se encontravam e ainda reforçavam os apelos das autoridades sanitárias no respeito às medidas de prevenção contra a doença.
Samora Machel Júnior, filho de Samora Machel, primeiro presidente de Moçambique independente, testou positivo e logo veio a público revelar a sua condição. Numa mensagem emotiva, Samora Jr. não apenas disse que testara positivo para Covid-19 como também partilhara o seu dia-a-dia. Samora Jr. não deixou, na altura, de apelar aos cidadãos para que cumprissem com as medidas de prevenção, a começar pelo uso da máscara.
Pouco tempo depois, o improvável aconteceu. A Covid-19 chegou ao Governo. Armindo Tiago, Ministro da Saúde acusou positivo no teste para a Covid-19. Tiago disse, na altura, que estava assintomático e que cumpria com a medicação em regime de isolamento domiciliário.
O Ministro da Saúde usou da oportunidade para, uma vez mais, apelar aos cidadãos para seguirem à risca as recomendações emanadas pelas autoridades de saúde.
Agostinho Vuma, Presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) é outra personalidade que testou positivo e não “escondeu” o seu estado. Através de uma nota de imprensa, Agostinho Vuma deu a conhecer que contraíra a doença e que seu quadro clínico era estável.
Da política seguiu para o desporto. Feizal Sidat, Presidente da Federação Moçambicana de Futebol (FMF), comunicou que apanhara o novo coronavírus. Sidat acusou positivo depois de um périplo que efectuara pelas províncias no país, isto depois de tomar posse como novo homem forte da FMF. Em comunicado, Sidat anunciara que cumpria com as recomendações das unidades sanitárias.
Nas vésperas do jogo com os Camarões, a seleção nacional de futebol, os mambas, sofreu um duro revés. Jogadores e equipa técnica contraíram o novo coronavírus, realidade que forçou alteração do xadrez. Aliás, a selecção ressentiu-se da ausência das suas pedras angulares de tal sorte que acabou derrotado pela seleção camaronesa. Luís Gonçalves, o seleccionador nacional de futebol, assumiu a infecção pela doença e, seguidamente, iniciou o tratamento.
Do desporto seguiu para o mundo das artes. Lizha James foi das primeiras artistas a assumir que contraíra o novo coronavírus. Nelton Miranda foi outro artista que também não escondeu o seu estado. Tornou público que apanhara a Covid-19.
Neste fim de semana, o edil do Chimoio, João Ferreira, também se revelou infectado. E nem os homens da “pena” escaparam. Na semana passada, o jornalista e director do Jornal Dossiers e Factos, Serôdio Towo, testou positivo. (Carta)
Fonte: Carta de Moçambique